2024-02-14

À CONVERSA COM CELSO LASCASAS, FUNDADOR DO GRUPO LASKASAS

Descubra a história, adversidades e lições de um empreendedor

Embarque numa jornada pela história da Laskasas, pelos desafios e pelos riscos que o seu fundador, Celso Lascasas, enfrentou na sua construção. Veja como esta empresa foi criada, do zero, e como cresceu até aquilo que é hoje.



Como surgiu a ideia, qual a inspiração, para começar uma empresa ou uma marca do zero?


A minha família não era de grandes posses. A prioridade era pôr comida na mesa. Não havia o suficiente para me dar aquilo que eu gostava de ter, e eu compreendo. Mas eu queria mais. Então se ninguém me dá, tenho que trabalhar para isso.


Fui trabalhar para uma oficina pequena, de um tio meu, como aprendiz de marceneiro. Nessa oficina, comecei a fazer umas mesas de centro, fora de horas, para ganhar aquele extra. O foco era esse, eu tenho que ganhar. Tive lá dos 14 até aos 21. A aprender a arte.


Mesa de marceneiro de Celso Lascasas

Mesa de marceneiro de Celso Lascasas, exposta nos escritórios Laskasas



Mas pronto, eu queria mais. Fui para outra empresa, era uma empresa média, não uma oficina como a outra. Fui ganhar alguma experiência e tive lá dos 21 até aos 28/29. Aí consegui juntar algum dinheiro. E pronto.



Foi aí que decidiu formar a Laskasas.


Aí nos meus 28, 29 anos, montei uma loja pequenina de compra e venda. Não havia produção, não havia nada, eu não tinha recursos para comprar máquinas. Investi tudo na loja, no conteúdo da loja.. Era em Ermesinde, fui eu e mais duas pessoas


Eu não acrescentava nenhum valor, como acrescentamos agora. Agora produzimos, desenvolvemos e criamos. Mas na altura não. Nem perto.


Celso Lascasas na zona de embalagem da Laskasas

Celso Lascasas na zona de embalagem das instalações da Laskasas



Como conseguiu os primeiros clientes?


Eu queria criar uma marca. Laskasas tinha que ser uma marca.

Nos primeiros dois anos, ou no primeiro ano, eu quase nem tirava ordenado para mim. Tudo o que eu conseguia ganhar era para investir em comunicação. Na altura era mais para jornais, revistas, rádios e essas coisas.



Quais os momentos mais marcantes, e quais os maiores desafios, na história da Laskasas?


Um salto muito importante que a marca teve foi quando eu decidi abrir a primeira loja em Lisboa, em Alfragide. Foi um dos pontos mais marcantes. Desde que abri essa loja começámos a faturar o dobro. Foi um boom que nem eu estava a contar.


Se eu fosse calculista, demasiado pensador, nunca a teria aberto. Não tinha recursos para abrir uma loja em Lisboa, daquele calibre, daquele tamanho. 

Mas com esforço e sacrifício as coisas começaram a aparecer. No segundo/terceiro mês, aquilo foi bom. Foi um dos pontos mais importantes, ao longo destes quase 20 anos da nossa marca.


loja Laskasas em Alfragide

Interior da loja Laskasas em Alfragide



Houve um ponto marcante pela negativa. Também acontece e também faz parte. Foi naquela crise da troika em 2011 ou 2012, dois anos muito duros. Estava a pensar em começar a ter alguma produção. Algo pequeno, uma máquina ou duas. Eu tive isso sempre em mente e foi nesta altura que comecei a investir. 


Eu saía daqui, muitas vezes, às 21h00, 22h00 e a pensar “oh pá, eu não vou conseguir, eu vou perder tudo. Isto não está a dar.” Mas consegui. Também com o sacrifício do meu pessoal. Na altura devia ter 40 pessoas, mais ou menos. 


Mas é com esses marcos maus que aprendemos muita coisa. Comecei a ver que a trajetória da empresa tinha que mudar de rumo. E assim foi. 

Eu estava a investir tudo no mercado nacional, era aquilo que eu sabia. Mas tinha que começar a ver mercados lá fora. Não posso estar totalmente dependente.


Celso Lascasas no cais de carga da Laskasas

Celso Lascasas no cais de carga das instalações da Laskasas



Foi quando percebeu que precisava de internacionalizar. 


Exatamente.

Depois dessa fase má, comecei a meter mais pessoal e comecei a produzir. Estamos a falar, para aí, em 2013, 2014.


Aos pouquinhos, comecei com umas máquinas mais baratas. Começámos a produzir alguma coisa e, ao mesmo tempo, começámos a meter alguns projetos internacionais e a fazer algumas feiras. Essencialmente no mercado espanhol.


Celso Lascasas nos escritórios Laskasas

Celso Lascasas nos escritórios da Laskasas



Teve alguma pessoa que o inspirasse durante todo este processo? Alguém que admirasse. 


Por acaso já me fizeram essa pergunta. E eu não tenho.

Aquilo que me inspira muitas vezes, são algumas atitudes de algumas pessoas. Atitudes, pela positiva. Que eu olho e penso “Aquele fez aquilo, é inteligente.” E gravo.


Às vezes esse alguém é pessoal conhecido ou pessoal famoso. É como diz o ditado, sonhar não paga nada. Se aquele conseguiu, e é um ser humano como eu, porque é que eu não posso conseguir? O meu pensamento é esse, é sempre olhar para cima.



Ao olhar para trás, o que é que faria de diferente?


Eu fiz muitas coisas sem pensar. Foi bom, resultou, graças a Deus. Correu bem, mas tive 3 ou 4 picos da minha vida que podiam ter corrido muito mal.


Hoje em dia era mais ponderado, se calhar não arriscava tanto. Já não tenho essa dose de loucura. Tenho um leque de responsabilidades.


É uma história porreira para se contar agora, mas se calhar tinha mais moderação. 


Celso Lascasas na zona de marcenaria da Laskasas

Celso Lascasas na zona de marcenaria das instalações da Laskasas



Qual é a peça Laskasas que mais o marcou? Qual a peça mais icônica para si?


O sofá K010. Era uma referência nossa. Foi um sofá que vendi muito e ganhei muito dinheiro com ele. Na altura fez a diferença.


Na altura, ainda não tinha nada, tinha uns estofadores que trabalhavam para mim. Foi um modelo meu. Eu não sou designer, mas ia às feiras. Tirava os pés de um, tirava o assento de outro…era aquilo que podia fazer.


Foi um modelo que durou sete ou oito anos. Nós descontinuamos porque realmente já não tem nada a ver com a nossa cara. Mas foi uma peça que ficou na memória.


Outra peça, que ainda está no ativo, é o cadeirão Sophia. Já deve ter, para aí, oito anos. E ainda dura, continua popular e vende. É dos cadeirões que mais se vende. 


Cadeirão Sophia e Banqueta Sophia em sala de estar

Sala de Estar com Cadeirão Sophia e Banqueta Sophia



E pessoalmente, qual a sua maior aspiração na vida?


Um deles é deixar um bom legado aos meus filhos. Ter um bom nome no mercado e pessoalmente. As pessoas poderem confiar no nome da empresa, e no nome da família. Terem respeito pelo nome.


Para quando eles forem maiores terem orgulho no nome e no pai. Deixar esse legado. 



Como se sente ao olhar para tudo o que a Laskasas passou ao longo dos anos e para onde está agora?


Orgulho. Muito mesmo.

Às vezes olho para isto tudo… Até me vêm as lágrimas aos olhos. Porque só eu é que sei aquilo que senti, que fiz, que aconteceu, que arrisquei. Dias muito maus, e claro, também dias bons. 

É um orgulho, não há outra palavra. Orgulho e mérito.


Instalações da Laskasas

Vista aérea das instalações da Laskasas em Rebordosa, Paredes



Onde imagina a Laskasas daqui a 10 anos?


Isto tens que perguntar à minha filha de 15 anos. É uma das respostas.


Outra resposta. Gostava muito que a Laskasas se tornasse numa das 50 melhores marcas da Europa. 


Eu gostava que ultrapassasse a quota de 50% do mercado internacional. É esse foco, pensar na escala mundial. Se há alguma situação no Globo que está tensa, por alguma razão, temos outros mercados que nos dão sustento. Quando estás dependente de apenas um ou dois mercados… tens sempre uma espada encostada ao pescoço.


Mapa Mundo e citação de Celso Lascasas

Mapa Mundo e citação de Celso Lascasas na principal sala de reuniões, nos escritórios Laskasas



Para acabar, que conselho daria aos(às) empreendedores(as) em Portugal? Se tivesse que deixar uma mensagem, qual seria a principal?


Oh pá, o conselho é muito fácil. Tem que haver risco, tem que ser, ponto. Não podem estar à espera do dia certo. Porque isso não existe.

“Agora não, a Euribor está muito alta.” “Não pode ser porque o mercado está a cair.” Era a guerra da Ucrânia. Antes era o Covid. Agora a guerra com Israel… Amanhã vai ser outra coisa qualquer. Se estão à espera do momento certo, isso não existe. É preciso chegar um dia e arriscar, ter a coragem. 


É preciso trabalhar para aquilo, ninguém te dá nada. Vocês dependem de vocês, só de vocês e exclusivamente de vocês.


Quantas decisões eu tomei erradas, que me arrependi porque cometi uma asneira. 

Porque às vezes tu podes errar em 9, mas depois acertas uma que dá para pagar 18.


É a consistência e persistência.


Celso Lascasas na zona de estofos da Laskasas

Celso Lascasas na zona de estofos das instalações da Laskasas



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